
Desde Vingadores: Ultimato, a última grande conclusão da Marvel a ser feita, o universo cinematográfico dos super-heróis dominadores de bilheterias tem sido criativamente difícil. Claro, eles ainda estão trazendo uma bilheteria considerável, mas o entusiasmo do público diminuiu na sequência de muitos lançamentos não tão bem sucedidos. A oferta mais recente, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, deixou um gosto amargo nos fãs.
Mas, graças aos céus, James Gunn entende tanto sua missão quanto mudar as expectativas das narrativas da Marvel. Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um filme com muitos momentos emocionantes, como nunca foram vistos desde que Thanos estalou os dedos e apagou metade dos heróis que sempre duvidamos que morreriam em seus próprios filmes.
Em um gênero que muitos ainda pensam ser, por falta de um termo coletivo melhor, infantil, Gunn está ciente de que a maturidade ressoa por toda parte, e que é o que o público mais velho realmente se interessa da natureza mutável das histórias que prosperam no filme, mas têm sucesso em sua interação humana. O diretor já provou seu valor ao enquadrar o que eram apenas personagens secundários de nível B da Marvel Comics como forças cômicas e físicas a serem consideradas em Guardiões da Galáxia Vol. 1 e Vol. 2 – e depois em um nível maior e mais violentamente caótico na DC Comics com O Esquadrão Suicida, de 2021 – e fazia sentido que ele fosse convocado mais uma vez (com várias ressalvas) para a despedida digna desses Guardiões que tanto amamos por quase uma década.
Como é o caso da maioria dos filmes da Marvel, onde os detalhes do enredo são reduzidos ao mínimo e, embora este terceiro tenha a mentalidade que o público viu nos dois filmes anteriores, várias coisas que ocorreram durante Guerra Infinita e Ultimato, e também no Especial de Natal do Disney+, não requer, por parte do público, um mergulho intenso no passado do MCU. O mais importante é que, Gamora (Zoe Saldana) não é mais a Gamora tão amada por seus colegas dos Guardiões – especialmente Peter Quill (Chris Pratt) – como a personagem "original" foi sacrificada por Thanos e uma versão alternativa da linha do tempo tomou seu lugar, é nítido ver a difícil relação dela com os outros membros da equipe. Mesmo que Gamora goste bastante de seus companheiros, as experiências vividas de sua versão original não foram compartilhadas, estas lacunas faltantes é que causam um dos pontos cômicos do filme.
Como todos parecem buscar seu próprio propósito, a história e o passado de Rocket (Bradley Cooper) que, impulsionam este Volume 3. A história brutal do guaxinim foi mencionada nos filmes anteriores, e Gunn afirmou o quanto queria contar essa história de uma forma mais profunda desde o primeiro filme. Diga que ele faz, e como. Mais uma vez, fugindo dos detalhes, o histórico de Rocket sobre como ele foi criado é o mais sombrio que o MCU já se aventurou em termos de sua natureza violenta e emoção crua. As crianças pequenas – o público que tantos pais acreditam que os filmes da Marvel se destinam – não devem ser submetidas a grande parte do filme, e se você tiver noção da crueldade infligida aos animais, torna o filme mais emocional e impactante a qualquer um que tenha um apego à estes personagens.
E é com a expansão da história de Rocket, aqui apresentada em flashbacks intercalados ao longo do filme, que por sinal, são brilhantes e expositivos, que somos apresentados ao Alto Revolucionário (Chukwudi Iwuji), o vilão mais sinistro, cruel e eficaz que o MCU já utilizou desde Thanos. Há um terror genuíno e imprevisibilidade em sua natureza, algo que finalmente assusta o público em relação à segurança de nossos heróis. É difícil acreditarmos que nossos personagens principais encontrarão seu destino através de todos os acontecimentos que vemos neste filme. Essa é a prova que Gunn torna o temperamento potencialmente divisivo em sua narrativa, talvez, pela primeira vez na franquia.
Claro, nem todos os elementos do filme são equilibrados com sucesso - assim como qualquer blockbuster recentemente. Embora o papel de Iwuji seja uma força brutal da natureza, o Adam Warlock de Will Poulter, considerado o vilão por muitos fãs, até causa um impacto na trama, mas não é exatamente o que se esperava. Warlock tem uma mentalidade mais cômica, que funciona no contexto da história e da criação de seu personagem (e em fidelidade com a forma como ele é retratado nos quadrinhos) mas, o personagem é uma vítima de uma forte história que claramente se concentra no encerramento de arcos dos Guardiões e nada mais além disso. Dito isto, Poulter é um ator cômico talentoso e é uma delícia quando está na tela e é uma pena não termos visto mais de seu personagem.
Outro ponto menos positivo, mas nem tão negativo, é a longa duração. Por mais que todos os arcos e momentos sejam bem explorados e bem aproveitados pelo roteiro, as duas horas e meia de aventura se tornam um pouco cansativa no final de tudo. Os momentos emocionantes e de tirar o fôlego, nos fazem mergulhar mais na história e no amor que temos pelos Guardiões, mesmo que a narrativa, algumas vezes, nos deixe entediados. Ah... e o CGI é de primeira! Sabe os melhores filmes do MCU que tinhamos no passado? Então, este aqui nos dá um gostinho adocicado da capacidade da Marvel em entregar ótimos efeitos visuais, ótimas coreografias de combate e grandes momentos para guardarmos na memória após a sessão!
Por fim, Guardiões da Galáxia é uma das trilogias mais fortes do MCU. A franquia desafiou de forma espetacular, as expectativas de sua narrativa, desde a importância de cada personagem até o grande ápice de cada filme, e saiu vitoriosa, quase 9 anos depois da estreia do primeiro Guardiões, lá em 2014. Embora a mudança de Gunn, para liderar a DC, seja uma perda para a Marvel, eles sempre terão esta galáxia fantástica para referenciar como eles acertaram com este grupo de desajeitados. Uma lição que precisava ser corrigida, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um lembrete poderoso de por que nós investimos tanto amor nesses filmes nos últimos anos.
NOTA: ★★★★☆
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