
O longa apresenta Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem solitário e deprimido que mora com a mãe, trabalha em um subemprego como palhaço de rua e enfrenta diversos problemas de saúde mental, como crises de riso incontroláveis por conta de traumas na infância dos quais não se lembra. Ele sonha em ser comediante um dia e participar do talk show do apresentador Murray Franklin (Robert DeNiro), enquanto sua mãe envia cartas e mais cartas pedindo ajuda ao magnata da cidade de Gothan Thomas Wayne, na esperança de que ela e Arthur possam ter uma vida melhor.
Desde que foi anunciado, Coringa despertou comparações com O Rei da Comédia, em virtude do envolvimento de Scorsese nos estágios iniciais, atuando como produtor (posto que deixou para se dedicar a O Irlandês), da presença de De Niro, interpretando o anfitrião de um talk show, e, principalmente, da premissa. De fato, o roteiro assinado por Scott Silver, em parceria com o diretor Todd Phillips, bebe mais na fonte do longa dos anos 1980 do que no universo dos quadrinhos.

Assim como qualquer outro filme, Coringa está inserido em um contexto político, social e histórico. Ao colocar um vilão, o principal nêmesis do Batman, sob os holofotes e contar uma possível história de origem sobre o palhaço do crime, é preciso cuidado, ainda mais se ele se tornará o que é por consequência de uma vida repleta de abusos. E o cuidado é justamente em deixar claro que nada justifica a violência, não há desculpas para matar pessoas para chamar a atenção e se sentir alguém uma vez na vida. O filme não é para ser um manual de como os injustiçados podem conseguir vingança. E sim sobre como não há como defender a violência. Sobre como não dá para pegar leve com o ódio desenfreado.


O longa ostenta o selo da DC e faz menções à mitologia do Cavaleiro das Trevas, mas isso é praticamente incidental. A Gotham imunda e com altos índices de criminalidade nada mais é do que uma representação da Nova York decadente das décadas de 1970 e 80.
Por fim, o que Coringa faz é resgatar, com muita propriedade, um tipo de abordagem sobre o qual grandes cineastas da contracultura — incluindo, é claro, Scorsese — se debruçaram e que ultimamente andava relegado ao segmento independente: o estudo de personagem. O longa mergulha de cabeça na psique de um ser humano problemático e sem limites, às vezes até demais. Mas entrega um longa que faz jus ao protagonista: problemático, perturbado, sem limites e catártico.

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